sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sobre o tempo!


Autor: Airton Luiz Mendonça

Publicado no jornal O Estado de São Paulo com o título de “Sobre o tempo!”.


O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio… você começará a perder noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.

Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.
 
Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muito mais recursos para compreender o que está acontecendo.  

É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e "apagando" as experiências duplicadas.

Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.

Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo.

Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente) o cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência). Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa… são apagados de sua noção de passagem do tempo…

Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir – as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações… enfim… as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.

Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a … r-o-t-i-n-a. Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque). Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).  

Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente.

Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países. Veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos… em outras palavras…   V-I-V-A. Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado ou casada com alguém disposto a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o… do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.

Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.

Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Como limitações na parte posterior da coxa (isquiotibiais) afetam a espinha lombar - parte 1





Três músculos que formam a parte posterior da coxa
Na última publicação sobre anatomia, ilustramos como ativar o abdômen relaxa os músculos das costas e fornece suporte a região lombar no asana Uttanasana. Isto pode ajudar a prevenir tensão sobre a parte inferior das costas nos asanas com dobramento frontal. Nesta publicação mostraremos como a parte posterior da coxa (isquiotibiais) pode afetar a parte inferior das costas. Nas próximas publicações ilustraremos como usar um importante reflexo no cordão espinhal para ganhar comprimento nós músculos da coxa posterior.


Utanasana: Parte posterior da coxa
 libertando a inclinação para frente com o 
movimento acoplado da espinha
 em extensão (menos flexão)
A parte posterior da coxa é composta por três músculos separados - semimembranosus, semitendinosis, e bíceps femoris . O bíceps possuí duas cabeças (“pontas”) sendo uma longa e outro curta. Já o semimembranosus e semitendinosis e a longa cabeça do bíceps  originam-se do tuberosidades isquiáticas (ossos da região que sentamos). A cabeça ou “ponta” curta do bíceps origina-se dá parte de trás do fémur (osso da coxa). 
O semimembranosus e o semitendinosus inserem-se no lado da tíbia (parte inferior da perna). As duas cabeças (pontas) do bíceps juntam-se no tendão que por si  insere-se na cabeça (ponta) da fíbula na parte de fora do joelho. A principal função dos três músculos da região posterior da coxa (isquiotibiais) é de dobrar o joelho, rotação do joelho e a de estender o quadril.


Utanasana: Parte posterior da coxa direcionando a 
pélvis em retroversão e o movimento acoplado 
deixando a espinha flexionada.
Com essa parte do corpo curta, puxa-se os tuberosidades isquiáticas (ossos da região que sentamos). Este efeito projeta a pélvis em retroversão, inclinando-a para trás e esse movimento afeta as articulações próximas por move-las de forma acoplada. Quando a pélvis inclina-se para trás, as vértebras lombares flexionam-se para frente desta forma  quando curvamos em uma postura para frente, mais flexão acontece na espinha lombar. Este processo não é saudável pois força os ligamentos ao redor da coluna e também excessivamente comprimi os discos intervertebrais. Progressivamente, alongar os músculos posteriores da coxa pode ser importante para praticar posições de dobramento frontal com segurança.


Espinha lombar em hiperflexão 
ilustrando a compressão dos discos.




Com esses músculos relaxados permite que a pélvis incline-se para frente. A espinha lombar acopla com este movimento direcionando para a extensão. Isto ajuda a retirar a força dos ligamentos e discos, preste atenção nas ilustrações ao lado para ver o conceito em prática.

Obrigado pela atenção e fique atento na próxima publicação, quando mostraremos um método simples para utilizar a fisiologia muscular para ganhar alongamento na parte posterior da coxa nas posições de dobramento frontal e potencialmente aliviar a força projetada na parte inferior da coxa.


Dê uma olhada nos livros da Bandha Yoga em português na página da Traço Editora para aprender mais como combinar a ciência ocidental com a arte do Yoga... 

Namastê

Bandha Yoga & Traços Editora

sábado, 5 de janeiro de 2013

Puro Ver


Estamos acostumados a viver no passado, condicionado por suas lembranças, eventos, lamentações, ansiedades, inseguranças, sucessos, conquistas, ambições, etc. Nada que nós percebemos é novo. Ao que percebemos, sobrepormos o passado dentro de nossas mentes e damos nossas percepções novos nomes.

Os nomes que damos a percepções depender da fala. O Nome está sempre associado a uma forma. Uma forma pertence à mente. Assim que a mente vê uma forma, dentro da memória, é ativado e encontramos uma memória correspondente. Nós retiramos e sobrepormos o objeto encontrado a frente. Há um enorme conflito no presente. Não parando por aqui, nós introduzimos um nome usando o discurso.

Tomemos o exemplo o ouro. Uma pulseira, como tal, não é um objeto. É uma projeção mental e um nome. Tudo o que é, é ouro. Ao ver uma forma particular circular, um pensamento anterior na mente é ativado. A forma é encontrada e etiquetada como 'pulseira' e atrelada a forma. Não há uma nova visão aqui. É somente o recordar.

Como ver, então? Uma pessoa só tem que ver, sem a mente, vendo com o ser. Sem a dúvida, fala ou forma são necessários para puro ver. Eis que a presença através de ver. Uma vez que a mente é trazida para a foto, um fluxo irrestrito de impressões subjetivas intercede o processo puro de ver.

Vendo sem trazer este observador, é ver o real. O observador é, em outras palavras, o conjunto de impressões, o ego, as idéias, os conceitos, as definições, a dogmas, submissões, culpas, resistências, etc. Estes são todos incorporados ao que é visto sendo um claro conflito, em que, a dualidade de observador-observado é tomada como real.
Uma vez que a mente é abandonada, há apenas ver. Não há mais nenhuma divisão observador-observado. Existe o ver com todo o ser. Há homogeneidade, apesar das ilusões da heterogeneidade.

Vamos usar um livro como por exemplo. A mente tem que estar muito tranquila para este tipo de observação.

O 'nome' livro tem que ser temporariamente bloqueado. Depois, há a forma que inflama a memória. A forma também tem que ser abandonada. Tente olhar de novo. A divisão sujeito-objeto é projetado agora. Há existência em todo o silêncio - inominável, sem forma. Esta é a consciência. Esta é a inteligência desprovida de nome, forma, subjetividade e objetividade.
Esse olhar é real ver. Não há nomeação através da fala, sem camadas de parafernália mentais. É apenas o ver.

Será que alguma coisa acontece  Não há nenhum acontecimento ou experiencia. Existe o verdadeiro ver, não há presença, realidade, é o eu interior.
Observar com tal tato é um dom natural, que nós aprendemos a esquecer. Na verdade temos que desaprender a viver a vida meditando. Esta nas escrituras e é chamado de 'shambhavi dRRiShTi'.

Eu também gostaria de salientar, que esta é uma prática mencionada em obras Patanjali Maharshi. Apesar de não aceitar a sua filosofia dualista, nós seguimos suas práticas, assim como nos yama, niyama etc.

Esta prática não vai negar ignorância. Isto entra na categoria de parampara sAdhanam (meios auxiliares). Conhecimento sozinho é o sAdhanam sAkshAt. (meios diretos) para moksha.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Oito Versos do Treinamento da Mente


Autor: Langri Thangpa
Tradução e Interpretação : Carlos Felipe Vieira da Costa



Oito Versos do Treinamento da Mente
1. Com a intenção de conquistar o supremo objetivo;
Que supera até a jóia dos desejos;
Possa eu, constantemente;
Estimar todos os seres vivos.



2. Sempre que estiver com os outros
Possa eu considerar-me o mais humilde;
E do fundo do meu coração;
Possa eu estimar os outros como supremos.



3. Em cada ação minha, vou assistir a minha mente;E no momento que as emoções destrutivas surgirem;Vou confrontá-las com força e evitá-las;Uma vez que irá me prejudicar e aos outros.


4. Sempre que encontrar seres desafortunados;

Ou aqueles oprimidos por crimes pesados  ou
sofrimento;
Possa eu estimá-los como algo raro;
Como se eu tivesse encontrado um tesouro inestimável.


5. Sempre que alguém por inveja;
Prejudicar-me ou insultar-me;
Tomarei derrota sobre mim;
E darei a vitória aos outro.


6. Até mesmo quando alguém que tenha me ajudado;
Ou em quem tenha colocado grandes esperanças;
Maltrata-me muito injustamente;
Vou ver essa pessoa como um verdadeiro mestre espiritual.


7. Em resumo, direta ou indiretamente;
Eu vou oferecer ajuda e felicidade para todas as minhas mães;
E secretamente tomar sobre mim;
Toda dor e sofrimento deles.


8. Vou aprender a manter estas práticas;
Sem vícios dos pensamentos;
das oito preocupações mundanas;
E Poder reconhecer  todas as coisas como ilusões;
E, sem apego;
ganhar a liberdade da escravidão.